segunda-feira, 30 de maio de 2011

Más caras


Todo mundo usa máscaras. Pode-se dizer isso. Inclusive pode-se dizer que todo mundo troca máscaras, pois cada um se comporta de acordo com o outro, com o próximo.

Parece óbvio, mas não se ouve muito sobre isso. Pelo menos não de forma aberta. O que se ouve são clichês, que por sua vez, são máscaras também, de um outro tipo. É preciso exemplificar para que tudo fique mais claro. Então, pense em sua própria mãe (pai ou familiar correspondente). Você é você mesmo para tal pessoa? Você é transparente? É aí que geralmente se ouve: “É claro que não! Não vou sair contando pra minha mãe tudo que faço ou penso. Isso é óbvio!”. É óbvio! Porém pouca gente percebe a profundidade do assunto. Quando se pede às pessoas para analisarem todas as suas amizades, família, colegas e conhecidos, poucas são aquelas que dizem ter alguém (pelo menos uma pessoa) com quem compartilha tudo que é, por assim dizer, faz ou pensa. Alguém que pelo menos esteja disposto a saber/ouvir tudo. Independente de concordar. O exemplo da mãe só foi usado porque é um clássico. Pois, a figura materna/paterna é aquela que “educa” e, portanto, a que poda/restringe/limita. Daí vem a ideia da máscara. Você veste a máscara que a mãe te dá. Você é o filho que a mãe pode/quer ver. Na rua você é diferente. No escritório você é diferente. Na balada você é diferente. Cada hora com uma máscara distinta.

Não interprete o exemplo acima como uma defesa à tolerância total ou à impunidade ou até mesmo o incentivo àqueles pais que mimam tanto o filho que o tornam insuportável, folgado e desrespeitoso. Máscaras existirão sempre e talvez até sejam necessárias, servem como mecanismo de defesa e controle social, principalmente desse chamado mundo civilizado. O que é preciso é atentar a elas e buscar desalienar as pessoas, pois o hipócrita muitas vezes odeia e julga algo do outro que ele mesmo faz. Escondido, mas faz. Hipócrita porque finge para a sociedade (independente do tamanho desta) ser algo mais puro, mais justo que o outro. Mais interessante ainda é aquele que realmente acredita que o outro é pior que ele, sem se dar conta de que o outro acha ele pior, talvez pelos mesmos motivos. Pode se tratar de uma imensa falta de auto crítica e também de uma falta de percepção de um modus vivendi. O indivíduo preso ao campo de forças social, imerso e inconsciente desse mundo administrado. [1] Nossas máscaras não somos nós, são vestes de hipocrisia e/ou alienação que a sociedade nos presenteou.



L'enfer C'est les autresJean Paul Sartre




Basta uma frase para confeccionar uma máscara. Algo como: “odeio gente que...” é o suficiente para você colocar aquela máscara, pois dificilmente você dirá na seqüência: “Então você me odeia, porque eu sou essa ‘gente’’”. Principalmente se você estiver conhecendo aquela pessoa e tiver algum tipo de interesse em ser “aceito” por ela. Esse também é só um exemplo, mas a censura pode ser mais sutil, como quando você chega pela primeira vez à casa de alguém e a pessoa vai lhe servir um café e pega aquela xícara que está no fundo do armário de cozinha e nunca é usada (são exclusivamente para visitas) enquanto há vários copos comuns e usuais (como o famoso copo lagoinha, ou até de requeijão. Por que não?) pendurados no escorredor. A leitura feita é que as pessoas estão tão acostumadas com o ato de dar e receber máscaras que elas sempre encaram a nova pessoa como um juiz, e o lugar de servir café é na xícara, certo?! Certo?! Fica a pergunta: Se essa mesma pessoa for até a sua casa, onde você servirá o café dela?

Bom, foi feita essa redução a uma questão banal para agora afastar e mostrar ao leitor a grande figura. Já viajou de avião?! Já viu aqueles carros pequeninos lá embaixo? Aqueles prédios que eram enormes e agora parecem não ter a menor importância? Se você viajar quarenta minutos de avião verá várias cidades e coisas tão miúdas que a existência ou não delas não fará a menor diferença para você dali daquele avião a 14.000 pés. De tão alto você não conseguirá ver a exata máscara que cada cidadão está usando lá embaixo, porém, com um pouco de visão crítica, verá que aquele vai-e-vem na cidade é a máscara da cidade. Todos mascarados, vestindo a bandeira da cidade, cantando orgulhosos o hino nacional. Sabe quem você é nessa hora para as pessoas da cidade? Um micro avião passando bem alto. Será que alguém percebeu?

É assim que a sociedade nos enxerga e enxergamos ao outro, a ela – a sociedade. Queremos mascarar igualmente a todos, de modo que ninguém seja ele mesmo, mas sim alguém que queremos enxergar.

São raríssimos os casos de pessoas que irão deixá-lo ser quem ou o que você é. Não é questão de gostar ou aprovar tudo que você é ou faz. É questão de deixa-lo à vontade para mostrar quem você é. Se vocês irão se dar bem ou não, já é uma outra história. Porém, é essa pessoa que eu quero incentivar. É esse um que eu acho necessário. É um pé-de-apoio. É peça fundamental da minha (talvez da sua) sanidade. Não consigo nesse momento pensar numa alternativa diferente para o coletivo, para a grande massa. A sociedade sempre teve e sempre usará alguma máscara. Mas será que temos que distribuir máscaras àqueles que chamamos de amigos? Até mesmo as pessoas que julgamos mais próximas?

Dizem que não se pode mentir para si. Eu creio que sim, é possível, e muito se vê disso por aí. Adorno chama de alienação e é por aí que essa “auto mentira” caminha. As pessoas têm uma grande capacidade de serem enganadas e de se auto enganar. Muito se ouve falar de auto conhecimento. Ora! Se existe a “busca do auto conhecimento”, conclui-se que há também o auto desconhecimento. Eu digo que esse é maioria! Ora, de novo!

Pode-se fazer uso de algumas citações, e assim, analisar as situações através delas. Citações podem alterar de significado de acordo com o contexto. Portanto, depois de tudo isso dito, vamos às citações. “O inferno são os outros” – Jean Paul Sartre. As pessoas julgam. Até quando a pessoa julgada possui o mesmo defeito que a pessoa que julga. Quando consciente, isso se chama hipocrisia e essa “lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. Assim como diz a canção interpretada por Beto Guedes. A sociedade, principalmente a ocidental, é doutora em hipocrisia. A imprensa sempre reforça tal lição e nós vamos, nús, acomodando. “Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”. – Voltaire. Essa última citação é uma espécie de lema daquele que não distribui máscaras. Não é preciso achar um semelhante. Fazendo outra citação: “Cada um é muita gente” – Fernando Pessoa. Quero dizer, cada um JÁ É muita gente.[2] Não é preciso um clone para que a frase do Voltaire faça sentido.

Mais uma vez digo que não estou aqui defendendo que não se deva julgar mais nada. Toda e qualquer sociedade, seja ela humana ou não, possui uma consciência e uma inconsciência coletiva. A questão é se desalienar ao máximo.

A sensação? É como voltar a respirar um ar puro depois de uma grande apnéia. Na verdade, só depois que você tiver “desabafado” para o outro é que você entenderá a importância e a verdadeira sensação de falar (e se conscientizar de) quem você é. Somos diariamente tão cerceados, reprimidos e mascarados que nos perdemos. Não sabemos mais o que nós somos ou o que estamos. Não sabemos discernir sabedoria de conhecimento. Somos, muitas vezes, simplesmente status quo.

Onde eu quero chegar com tudo isso? Talvez para a saúde mental alheia, você precisará SER, e procurar divulgar a ideia, aquela pessoa que não sai por aí julgando tudo. Você pode ser, PARA alguém, a pessoa que ouve, a pessoa que aceita. No sentido de enxergar até os piores defeitos e ainda assim estar lá. Pois, “Procurando bem todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina.” – Chico Buarque e Edu Lobo. Quem sabe a coisa espalha e você encontra alguém para gostar de você, apesar de?!





O todo é maior que e a soma das partes.




por: Arley Alves Ribeiro



[1]
As expressões: modus vivendi; campo de forças; mundo administrado – são frequentemente usadas por Theodor Wiesengrund Adorno em diversos dos seus livros, por exemplo INDUSTRIA CULTURAL E SOCIEDADE

[2] Pode-se interpretar “Cada um é muita gente” também de uma outra forma, dentro do mesmo contexto de máscara. Cada um é muita gente porque cada hora se usa uma máscara distinta, portanto somos muitas gentes (mascaradas) dentro de um.

sábado, 7 de maio de 2011

SunScreen

http://www.youtube.com/watch?v=SEvaH4crXus

Lembrando desse vídeo, que creio que nunca vai expirar, não sei se fico triste ou feliz já que o tempo não pára, a batalha continua e não acredito que se vença guerra nenhuma. Estou cheio de saudades de mim. Daquele cara que ainda não chegou lá, mas tem esperança. Estou à disposição de conhecer pessoas melhores porque mal educadas, sensível porque insensível, insensível porque sensível, céticos porque cheios de esperança, atuais porque desinformados...
Preciso escrever mais, pro meu próprio bem... e dos umanus, talvez.